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* Localização
Careta, ano 1, número 9, 1 de agosto de 1908
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4 fotos da primeira prova automobilística disputada no Brasil, o Circuito de Itapecerica, em São Paulo. Foto do vencedor Silvio Penteado e aspectos do percurso. A legenda informa o percurso pela cidade.
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* Comentário
Encarado como substituto e superação da natureza (de cavalos e da força humana), o automóvel é uma marca da chamada Segunda Revolução Industrial e um dos símbolos mais importantes do século XX. O automobilismo, em grande medida, é entendido como o exponencial dessa representação simbólica.
É largamente aceito que o primeiro automóvel tenha chegado ao Brasil pelas mãos de Alberto Santos Dumont, um dos precursores da aviação, desde muito jovem interessado pelas “fascinantes máquinas modernas”.
Em 1891, Dumont desembarca no Porto de Santos com seu Peugeot, com motor de dois cilindros da marca Daimler. Logo transferido para a cidade de São Paulo, pode-se imaginar a surpresa da população ao ver aquela máquina barulhenta se deslocando pelas ruas sem a necessidade de cavalos para a tração.
Foram como grandes aventuras que foram vivenciados os primeiros momentos do automobilismo brasileiro. Por exemplo, em 1908 um evento de grande impacto marca a história da modalidade no país: a pioneira aventura automobilística em solos brasileiros. O fato é bastante simbólico: um francês (o Conde Lesdain), já conhecido como desbravador por seus feitos na Ásia e na África, auxiliado por três outros franceses (Henri Trotet, Gaston Conte e Albert Vivès), faz o percurso Rio de Janeiro-São Paulo, justamente as duas cidades mais envolvidas com o automóvel, percorrendo 700 quilômetros em aproximadamente 35 dias; para tal, fez uso de um Brasier.
A ideia de organização de uma corrida de automóveis mais estruturada parece ter sido lançada por uma importante figura da política nacional, Washington Luís, à época um dos secretários do governo de São Paulo. Ao passear com seu carro pelos arredores da cidade, descobriu um percurso que lhe pareceu adequado para uma prova e apresentou a possibilidade para um grupo de membros das elites paulistanas, os mesmos que logo fundaram o Automóvel Clube de São Paulo: estava lançada a ideia do Circuito de Itapecerica.
A comissão organizadora da prova assim estabeleceu as regras para o Circuito: prova no estilo rally, cinco categorias (divididas pela potência dos veículos); taxa de inscrição de 100 mil réis para carros e 50 mil para motos; a proibição de participação de “profissionais” (assalariados, como mecânicos, não podiam participar).
A corrida foi inicialmente marcada para 14 de julho de 1908, com o intuito de homenagear a França; entretanto, um pedido de Miguel Calmon, Ministro dos Negócios da Indústria, Viação e Obras Públicas, intermediado por Aarão Reis, presidente do Automóvel Clube do Brasil, levou à transferência da data.
Em 26 de julho, com três motos e 16 carros inscritos, foi dada a largada do Circuito de Itapecerica, reconhecida largamente como a primeira prova “oficial” do automobilismo brasileiro.
Os competidores deveriam ir à cidade de Itapecerica da Serra e voltar a São Paulo, cumprindo aproximadamente 75 quilômetros. A largada e chegada, local onde se aglomerou grande público, foi realizada no Parque Antártica, espaço que desde o início do século abrigava um complexo de entretenimentos.
Entre os carros, 11 eram de origem francesa (das marcas Delage, Peugeot, Sizaire-Naudin, Renault, Berliet, Clément-Bayard, Lorraine-Dietrich, Herald, Brasier), três eram italianos (Fiat), um era inglês (Brow) e um alemão (Nag). Todos usavam pneus Pirelli. As três motos eram da francesa Griffon. Participaram como pilotos membros das elites paulistas, como Antônio Prado Júnior, alguns cariocas, como Gastão de Almeida, e estrangeiros, como o francês Jordano Laport.
O grande favorito da prova era o já conhecido, por sua façanha de fazer a travessia Rio de Janeiro-São Paulo, Conde Lesdain. Ele, contudo, quando se preparava para a prova, quebrou seu automóvel, algo que se repetiu no dia da competição. O carro mais potente era o Lorraine-Dietrich de 60 HP de Jorge Haentjens, que disputou sozinho em sua categoria.
A grande disputa se deu mesmo entre um carioca e um paulista: Gastão de Almeida, já conhecido por suas aventuras automobilísticas, quebrou o carro próximo à chegada, quando tinha grande vantagem sobre o segundo competidor, Sylvio Álvares Penteado, que acabou por vencer pilotando um Fiat, para delírio do grande número de imigrantes italianos que acompanhava o evento.
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